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Sexo. São quatro letras que pingam, e espero que elas deixem molhadinha a
audiência, chamem a atenção e, como não se fala de outra coisa, grudem na
curiosidade de quem passar por aqui. O cacófato de “por aqui”, por exemplo, já
cheira a sexo, e por sua sonoridade lamentável desde já me desculpo. De resto,
é uma palavra que doravante será tratada sem culpa, ao estalo do chicote semântico.
Eia! Sus! Avante! Tudo pelo aumento do pageview e todos os tesões da visibilidade digital. Não se
diz mais “me come”. A frase mais sussurrada é “me compartilha”.
Sexo. Para qualquer canto que se vira tem alguém dizendo “vira, amor”.
São quatro letrinhas que pingam. Quem viu “O lobo de Wall Street” sabe que às
vezes elas pingam em forma de cera quente, vela derretida, e dá uma dor gostosa
no lombo do Leonardo Di-Caprio. Ele geme, ele diz que vai morrer. Sofre na mais
bagaceira cena de sexo já vivida por um grande ator na história do cinema. Não
quis saber, não cobrou preço especial pelo michê, digo, cachê da performance.
Di-Caprio acha que o orgasmo virá quando encher a mão no bronze do Oscar.
Sexo. Quatro letrinhas que deixam todo mundo de quatro a fim de entender
do que se trata e se há alguma possibilidade de que ele ocorra com a sua
própria pessoa. Não confundir com orgia, que é aquela festa para a qual não
fomos convidados. Também não resvalaremos para a pornografia, que é o erotismo vulgar
dos outros e a gritaria que de madrugada vem do terceiro andar. O sexo que aqui
se fala tem mais a ver com o vulcão de Sophie Charlotte em “Serra pelada” ou a
tara amazônica de Dira Paes em “Amores roubados”. É o êxtase autorizado pelo
Divino. Louva-se tamanha dádiva, segundo a permissão que Ele escreveu no terceiro
poema do “Cântico dos Cânticos”: “Teus seios são dois filhotes, filhos gêmeos
de gazela, pastando entre açucenas”.
Sexo. Quatro letrinhas pagãs que batucam e querem o ano inteiro enfiar o
bloco no carnaval das ruas. Lá vem a bateria da nova Globeleza, e é impressão
minha, obsessão particular, ou lhe tremem mais do que nos anos passados as
platinelas do deslumbrante pandeiro que são seus glúteos? Nada contra. As
carnes, outrora placas de aço maciças, foram humanizadas por alguns tremeliques
na hora em que a mulata samba, e a Globeleza ficou mais parecida com a que você
tem em casa. Isso é bom. Da mesma maneira que são bons os versos de Maria
Vasco, uma das fundadoras da mitologia de Ipanema, em seu novo livro de poesia
erótica: “tomei um chá quente com a boca morna beijei e suguei levemente por
inteiro senti o mesmo que você”.
Sexo. Antes, fechava-se a janela, agora, abre se a câmera. Clara Aguilar
é webcam girl. Ela vivia — impossível escrever sobre sexo e deixar a página seca até
o final — do pinga-pinga dos voyeurs em sua conta bancária, tostão e mais
tostão que agradecia penhorada após exibir em seu portal os 750 mililitros de
silicone implantados em cada seio. Ela agora dá de graça no BBB-14. Parece que
já beijou todas as mulheres do programa; se ficar até o final, ameaça fazer o mesmo
com os homens.
Sexo. Tem para todos. Não será surpresa para esta coluna se nos próximos
dias Clara pegar o batom carmim e, copiando o trecho final do “Apocalipse”,
escrever “Nunca mais haverá maldições” no espelho do banheiro. Pode parecer a
descrição do fim dos tempos, a santa família vitimada pela overdose das quatro
letrinhas. No entanto, eu estou com o que Pedro Bial disse depois de dar uma
olhadinha nos olhos, e mais abaixo ainda, da webcam girl. Zero de libido. Zero de aflição pelas carnes
artificiais. Sexo. Quatro letrinhas dedicadas à mais pura gozação. Mente-se
muito por trás de suas duas sílabas. Pela frente também. Elas antes significavam
apenas homem-mulher, mas hoje nelas cabem o diabo a quatro e mais o pessoal
daquela tinturaria “5 à Sec”. Eles vão ao 2A2, no Humaitá.
Sexo. Há uma urgência militar em cumprir as suas ordens, a crença
despudorada de que a felicidade já foi uma casinha pequenina com gerânios em flor
na janela, hoje é a contabilidade crua dos orgasmos alcançados. Nada contra.
Mas aumenta o bloco dos que viram para o lado, acendem o cigarro e murmuram
enfadados: “Há divergências”.
Sexo. O presidente da França só pensa nisso, o stripper Tony Tripé Prado
circula pelo Rio em seu táxi e garante. Aqui, também. O filme “Ninfomaníaca”
acha OK, mas põe a cama para ranger ansiosa. Garante que o sexo está deixando muito
a desejar — e colocou em cena uma multidão de pênis flácidos, gente que transa
sem beijar na boca. Goza-se muito, ninguém é feliz. Uma das personagens
subitamente apaixona-se. Abandona a ditadura do orgasmo pelo orgasmo, o embate
carnal entre desconhecidos, e despede-se do clã das ninfomaníacas com a
frase-chave do filme: “Vou embora, descobri que o amor é o ingrediente secreto
do sexo”. Na saída do cinema, eu ouvi alguém concordar. “Sexo é sempre bom”,
completou com sotaque carioca, “mas a intimidade é a grande sacanagem”.
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