Da caixa postal


De Perfeito Fortuna (foto)
, Lapa: “Joaquim, tu foste ao Boitatá, ao Céu na Terra? Essa galera tanto compõe repertório quanto toca as marchinhas. Onde que tu vai para falar que falta música ao carnaval? Procurar renovação na Banda de Ipanema? Esse povo toca com banda contratada, não é preocupado com a qualidade. Pra juventude que começou a pular carnaval agora, é tudo novo, as velhas marchinhas inclusive. O presente tanto faz pra trás quanto pra frente. Pra quem não conhece, o velho é novo. Mais que música, falta é músico para dar conta da demanda de blocos. O mesmo saxofonista do Céu na Terra corre pra tocar no Boitatá. Alegria virou negócio, capital. Tem vaga, falta gente. Arrisca uma tuba aí?" • Perfeito, quem me dera saber por onde ando no carnaval, tantas as que eu entorno do embornal que carrego, junto com a peixeira, nas anáguas da minha baiana. Acho que comecei pelo Vizinha Faladeira, passei no Vassourinhas, e depois já não tenho certeza se era eu mesmo quem batucava no turbilhão da Galeria. Fui da Lira do Xopotó, meu nego, você não sabe a responsa! Entrementes, estou contigo. Alegria é o nosso capital, a Lapa é a nossa Capela Sistina. Não temos fábricas, não temos laboratórios, mas ninguém, independentemente do sexo, põe a boca
na tuba como a gente.

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De Geisa Fernandes: “No meio do seu texto sobre a Deborah Secco, você começa a falar da mesmice das cantoras de hoje. Isso também me incomoda. Elas usam vestido florido, tomara que caia, pés descalços e colares. Todas agradáveis de se ouvir, mas muito parecidas. A serviço de que estão essas vozes?” • Geisa, é o mal de uma geração. Todas querem o aplauso pela simpatia e pelo quase amor de serem fofas. Ninguém quer pagar o mico da Elis desesperada em “Atrás da porta” ou da Dalva soluçando em “Bom dia”. As novas cantoras são afinadas demais, as atrizes se penteiam demais. Escondem do público as porradas que a vida todo dia dá na cara delas. Que a Maysa, descabelada, bêbada, assombre seus lençóis de mil fios da Alfaias.

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De Dagoberto Midosi: “Não querendo ser saudosista, mas que saudade de músicas como ‘O teu cabelo não nega’, ‘Linda morena’ e outras.” • Dagoberto, o carnaval precisa mudar de musas. Essas senhoras já foram muito cantadas, jogaram pó de mico no salão, atravessaram o deserto do Saara, deram seu caldo. Está na hora de elas tirarem o pé da jaca. Que deixem o trabalho sujo das ruas de Momo para cachorras, periguetes, mulheres-frutas e presidentas. Abunda mulher nova, falta compositor macho que perceba e bote todas, com a música apropriada, para vibrar no trombone de vara.

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De Afrânio Santiago, Tijuca: “Também notei esta passagem abrupta da depressão (insegurança, bala perdida, medo, dengue) à euforia (Olimpíadas, Hollywood, UPPs, economia aquecida). Euzito, que vivo de aluguel, pagava 700 paus num apê na Tijuca que agora vale 1.200. É como se nos descobríssemos falsos ricos. Prefiro aquele Rio sensato ‘da beleza e do caos’.” • Afrânio, eu prefiro o Rio como um toldo, que é como aquele delegado Nelson Duarte, dos homens de ouro, falava na TV Tupi. Tenho medo de muitas regras gramaticais, de choques de ordem, beijo de boca fina e frescobol só depois das cinco. Sem ciclotimia, sem neguinho a cem por hora na ciclovia, isso vira nota dez em harmonia, uma Estocolmo morena onde o resultado é o tédio, o suicídio e o Abba. Voto pela esculhambação que nos é inerente e pelo toldo que nos é proteção.

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De Luis Turiba, de Brasília: “Grato por nos lembrar as sacanagens zefirianas escondidas no baú da adolescência. Olhei de novo por buracos de fechaduras e frestas de portas mal fechadas, onde habitavam mulheres rechonchudas com o apetite sexual de anteontem. Ah, quantas maravilhas naquelas revistas do Zéfiro,que escondíamos como diamantes por trás
dos rádios da velha casa de nossos pais.” • Turiba, acho que aqueles rádios de válvula acabaram porque não há mais nada para se esconder atrás deles. Durante a ave-maria do Julio Louzada, a minha família se ajoelhava ao redor do aparelho, e, enquanto todos oravam pela Virgem Maria, eu via, recortada pela luz vermelha da válvula, a imagem arfante da Alzira, a musa insaciável da revista que eu havia escondido atrás do rádio.

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De Ronaldo Perracini, Rio Comprido: “Os blocos ficaram enormes, não dá para ouvir a música. Estive no Sargento Pimenta, na Visconde de Caravelas, em Botafogo, e não dava nem para andar.” • Perracini, quando os blocos atravessam a Visconde de Caravelas na direção de Abbey Road, para pegar música pro carnaval, é sinal de que a coisa tá feia. Onde estão os tamborins, meu nego? Cadê a bemol, natural, sustenida no ar, que o compositor popular do Rio botava na rua, sempre com a rima acima da razão, o bigorrilho na mão, e fazia da música de carnaval o hino da cidade? O Ringo não tem a resposta.

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De Daniel Faleiro: “Poucas atrizes conseguem, como a Deborah Secco, ser Cisne Negro e Cisne Branco. A Natalie Portman não conseguiu.” • Faleiro, é triste o panorama teatral de um país quando as suas atrizes confundem soltar a franga com mostrar o cisne negro, e só então o revelam, mesmo assim sempre depiladinho como manda o figurino da última moda, ao circunspecto editor da “Playboy”.

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