Da Caixa Postal

                                                Leitores fazem perguntas para o ‘Teste de carioquice’ 



1De Ademir Figueiredo: “Eu penso que o principal diferencial do filé Oswaldo Aranha para os outros é a presença da laranja. Gostaria de observar também que há muito equívoco quanto ao termo ‘Carioca da Gema’. Só cariocas, filhos de pai e mãe cariocas, são ‘Da Gema’.” Ademir, acho que você misturou os pratos e colocou a laranja da feijoada em cima do alho frito do filé Oswaldo Aranha. As gemas cariocas a que você se refere devem ser as que cavalgam as costas do filé a cavalo. Peça com gema mole. Deixe escorrer sobre o arroz. Sal ao gosto. Aproveito o ensejo para continuar na gastronomia carioca e perguntar: Onde se come o mais clássico cabrito da cidade?

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2. De Mario Bendetson, designer: “Eu podia jurar que o que matou o guarda foi uma empada e não uma cachaça.” Mario, essas respostas dependem muito do botequim que se frequenta.
Não há registro de morte, nem de guarda nem de cronista ligeiro, depois de uma empada de  camarão no Caranguejo de Copacabana. O prontuário da cachaça é maior. Por isso, para se precaver do mau destino, os cachaceiros vão ao canto do balcão e oferecem o primeiro gole ao
santo. Acho, não garanto, que ouvi isso no programa “Pergunte ao João”. Em que rádio?

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3. De João Sousa Rego: “Um elogio: você escreve muito bem. Um reparo: você é prolixo demais.” Decida-se, Rego. Escrever bem e escrever prolixo são ruas que não se encontram. É como marcar encontro com a mulata da sua vida na esquina de Barata com Atlântica. Você perde o
rumo do texto e os favores da mulata, se é que, mais uma vez, não me alongo. Eu gosto mesmo, já que estamos falando de texto, é de descer a Rua do Acre e, antes de chegar à quadra da Rádio Nacional, na Praça Mauá, dobrar à esquerda e entrar na Travessa do Liceu. É o que faço sempre
que o bicho pega. Escrever é isso. Subo a escada de uns dez degraus em cada um de seus
dois lances e estou na Ladeira João Homem. Às vezes, entro no Imaculada. Faço uma oração e
tomo um traçado. Que morro é esse?

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4. De Antonio Pontes: “Com 35 acertos posso ser considerado um carioca?” Antonio, uma primeira lição da carioquice. Não pergunte. Vai chegando. Junte-se aos bons. Aperte os ossos.
Come um jiló. A propósito: a Bolsa de Valores dos endinheirados deixou o Rio, mas a Bolsa de
Valores dos gays continua firme e sarada na mesma praia de sempre. Onde?

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5. Marta Cardoso, de Irajá: “E o Buraco do Lume? E o Buraco do Mourão? E o Buraco do Lacerda? Você sabe onde ficam?” Martinha, os buracos do Rio dariam teste à parte, não o faço porque os jornais impressos precisam conquistar leitores jovens que andam se bandeando para a internet, e este assunto de buraco deve ser evitado num momento como este, em que ainda há
crianças na sala. Não quero perdê-las. Mas já que você se interessa pelo assunto, responde baixinho: Onde fica o Buraco da Lacraia?

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6. De Alexandre Rocha: “A frase certa é ‘Intelectual não vai à praia, intelectual bebe’, e foi dita
pelo Paulo Francis ao ser interpelado pelo Jaguar por estar, no verão de Ipanema, de terno preto ao invés de ir à praia.” Alexandre, eles é que bebem e o colunista é que fica tonto. Isso é que dá fazer crônica tomando Sustincau, Yuki e chupando sorvete de manga da Sorveteria das Crianças. Em que bairro ficava a sorveteria?

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7. De Osvaldo Ramos, Cabo Frio: “Na pergunta ‘Jacaré no seco anda?’, a melhor resposta não seria ‘No seco atola’?” Osvaldo, as coisas dependem muito do jacaré, do seco e do que se pretende fazer com eles. A coluna é pelo livre arbítrio, o vale-tudo e o direito da torcida do Vasco
torcer na arquibancada do Fluminense. A propósito, antes da Dilma, a torcida do Vasco já tinha
uma presidente. Quem?

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8. De Paulina Sant’anna: “Adorei os testes da carioquice, mas agora quero inverter o jogo e perguntar para você: Onde se tomava frapê de coco na Avenida Rio Branco?” Essa é fácil, Paulina. Eu era aquele garoto de Príncipe Danilo que ficava entre as mesas da Casa Simpatia pedindo, “ei tio”, que me pagassem um frapê. Foi onde comecei a tomar notas para escrever esses testes e ganhar uns trocados para pagar os frapês, que agora tomo na Chaika. A propósito: onde foi parar a estátua do Pequeno Jornaleiro, que ficava ali perto do Simpatia?

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9. De Eduardo Beltrão Chaves, Tijuca: “Quem é que ficava na Av. Maracanã com Uruguai ou muita vez (salve Machado de Assis!) na porta do Banerj na Saenz Peña e dizia ‘Are you going to eat it now or shall I wrap it?’ Resposta: O Sheik de Cocadir. Era um negão vestido de branco, como um preto velho, que vendia cocadas. Ele perguntava em inglês e, se o freguês não entendesse, traduzia. ‘Vai comer agora ou quer que embrulhe?’” Edu, conheci o Sheik e ele processava por dano moral quem escrevesse no jornal a lenda urbana sobre o plus a mais que, diziam, vendia por baixo da cocada branca. Perdi R$ 4 mil num processo. Dos tipos das ruas, prefiro o Ademir do Sax, do Largo da Carioca. Qual a música que ele mais toca?

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10. De Gil Dias Ferreira, Tijuca: “Você sabe onde ficava o Senadinho? Era um bordel de luxo, frequentado por senadores, no Ed. São Borja, na Cinelândia. E você sabe quais eram os bordéis da Rua Alice? Eram o B***** de Prata, onde tem hoje a Casa Rosa, de festas, e o B***** de Ouro, perto do túnel. E aí, deu pra passar?” Gil, quem deu para passar foi o Lochas, grande figura humana, que me ligou só para perguntar, “e aí, já foi com Mido no escuro?”. Eu respondi na picardia, “Tá com a mão limpa, Lochas?”. Cá entre nós, Gil, onde ficava o Bordel das Normalistas?


Respostas: 1. Restaurante Nova Capela, na Lapa. 2. Rádio Jornal do Brasil. 3. Morro da Conceição. 4. Posto 2. 5. Casa noturna na Lapa. 6. Ipanema. 7. Dulce Rosalina. 8. Rua Sete de Setembro. 9. “New York, New York”. 10. Nos livros e na imaginação fértil de Nelson Rodrigues

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