Essas mulheres-2

                Elas atenderam ao apelo do colunista e contaram suas histórias. Mande a sua


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De Helena Ferreira: “Aconteceu com a minha sobrinha. Um dia, ela (psicóloga de carteirinha, com doutorado e mestrado na França) encontrou seu ex-namorado num bar com uma nova namorada. Ela simplesmente despejou o copo de cerveja nele e nela. Achei que tinha surtado, fiquei preocupada. Mas, cá entre nós, sempre tive vontade de fazer isso com alguém, e conheço muitos que merecem.” Helena, não se reprima que, aí sim, algum surto se tornará inevitável. Se você quiser colocar um texto na cena, para que não fique pastelão de cinema mudo, chegue no casalzinho, derrame as cervejas e diga: “Ei, vamos parar com essa felicidade aí!”.

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De Ana Machado: “Você precisa conhecer a Bárbara, uma amiga a quem a vida deu um limão e todo dia ela faz uma limonada. A mãe morreu tuberculosa, e o marido a abandonou com os filhos, que ela precisou distribuir. A Bárbara já se vestiu de bate-bola no carnaval para dar uma surra na amante do marido. Ela é a tal mulher tirana que está na moda, mas a vida difícil a ensinou a ser generosa. No plantão aqui no hospital, tudo o que ela compra, divide com as colegas.” Ana, agora eu entendo por que voltou a crescer o número de fantasiados de bate-bola no carnaval. O importante, seja pelo motivo que for, é preservar as tradições da cultura carioca. Dou força.

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De Cintia Procópio Magalhães: “Entrei no ônibus e reparei que sentado próximo à porta de saída estava o homem mais lindo que eu já vi. Fiquei por perto porque meu ponto estava próximo e para que ele reparasse em mim. Procurei ficar discreta, mas sensual (se isso é possível). Assim que o ônibus parou para eu saltar, olhei para trás e, como despedida, dei uma olhada 43 para ele. Foi aí que tropecei no degrau. Caí na calçada, de cara no chão. Olhei para ver se ele vinha me acudir. Que nada. Continuava sentado, morrendo de rir.” Cintia, eu sou do tempo em que o passageiro entrava pela porta dos fundos, o cobrador pedia um passinho à frente e falava-se somente o indispensável com o motorista. Foi no tempo em que homem cedia o lugar para as mulheres bonitas como você e puxava papo. Por exemplo: “Você pega sempre este ônibus? Você já reparou que a capa do banco do motorista é bordada por sua digníssima esposa com uma imagem de São Jorge?”

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De Marcella da Silva: “Eu tinha acabado de perder um primo de maneira trágica. Passei um mês no sofá, de calça de moletom, meia, pote de chocolate e muita pena de mim. Sou produtora cultural e topei sair daquilo para acompanhar um músico que ia a Paris fazer shows. Na véspera, ele cancelou. Ó céus! Fui assim mesmo, para tirar as olheiras, que já pareciam tatuagens. Todos os hotéis — ó azar! — estavam lotados. Acabei hospedada no apartamento do conhecido de uma amiga. Metade do apê era ocupada pela minha mala, a outra, pela minha vergonha. Era mínimo. O anjo da guarda voltou a tocar sininhos em minha vida quando o dono apareceu. Estamos juntos até hoje, ainda em Paris, num apartamento maior.” Marcella, estou de acordo. Não há olheiras que resistam à luz de Paris, pele branca que resista ao sol do Rio e libido exacerbada que assim se mantenha no inverno de Londres.

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De Isabela Guerreiro: “O marido de uma amiga minha chega a pedir que ela lhe coloque as meias. Num dia, ela desabafou: ‘Se um dia fosses pra guerra, criatura, quem iria colocar as balas no teu revólver?’ Felizmente esse tipo de relação está cada vez mais raro hoje em dia, ou eu estou sendo ingênua?” Isabela, marido é gente folgada e assim continuará sendo, por definição e índole, até o fim dos tempos, cada vez mais próximo, dessa bizarrice que é o casamento. Conheço homem que não passa manteiga no pão porque considera isso uma prenda do lar e diz que o faz por respeito, por não querer invadir o espaço da patroa. Ô raça.

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De Marinilda Souza: “Casada há dez anos com um cidadão muito bem de vida, descobri que o sacripanta tinha arrumado uma amante. Furiosa, fiz as malas dele, fui para o hotel mais caro que eu sabia que ele frequentava a negócios, em São Paulo, e me apresentei como secretária. Reservei uma suíte e deixei a bagagem com todas as roupas dele que consegui arrumar em três malas grandes. Quando ele chegou a nossa casa, avisei que estava despejado. Não disse o que fizera com a roupa. Quarenta dias depois, o hotel resolveu procurá-lo. A conta era estratosférica, e a vingança ficou divertida. Pelo menos para mim.” Marinilda, tenho certeza de que o sacripanta vai ler a história no jornal e telefonar perguntando o que é sacripanta. Um velhaco. Não diga.

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De Denise da Silva: “Minha amiga foi ao banheiro, naquela de emergência inadiável. Achou que não estava deixando ‘boa impressão’ depois do feito e acendeu um fósforo para consumir os gases que empesteavam o ar. Era sábado, banheiro lotado de ‘escovadas’. Alertados pelo sinal de fogo, os sprinklers esguicharam água para tudo que era lado. Foi um Deus nos acuda. As ‘escovadas’ correram para salvar as cabeleiras lisas do sábado à noite. A minha amiga se fingiu de vítima e foi junto.” Denise, todas as armas devem ser usadas contra a praga das “escovadas”. Se a guerra de gases, primeira tentativa de sua amiga, não deu certo, que se usem contra as “alisadas” jatos de sprinklers, armamentos do Ahmadinejad e fotos da Sheron Menezes espalhadas por toda a cidade.

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