Parecia linho, mas era Linholene,
e eu só estou me lembrando deste slogan porque estamos no intervalo das
eleições e o jornalista Alberto Villas aproveitou o ensejo para colocar nas
boas casas do ramo o “A alma do negócio”, livro sobre a propaganda nos tempos
do Danoninho (“vale por um bifinho”) e do Q-Suco (“faz a jarra sorrir”).
Mentia-se muito – o tal Linholene
não passava de um pedaço de plástico – e continua-se assim com a propaganda
política que ora nos acomete. Nunca se trapaceou tanto. A promessa do fim de
semana é que alguém vai tocar a campainha da porta do eleitor e lá estará,
linda e sorridente, uma vendedora sussurrando “Avon chama para um Brasil melhor”.
Todos terão direito não só ao Bolsa Família, mas aos cremes do Bolsa Cosméticos.
O resto da propaganda gratuita é o
que se sabe: fulano é maconheiro; sicrana ronca. Acusa-se, promete-se. Nada de mal acontecerá a
quem profetizar a abundância de leite, mel e Phymatosan para as crianças do paraíso
futuro. O candidato X fará chover ininterruptamente sobre os mananciais
paulistas. O Y não roubará.
Eu, que a todos assisto e a tudo
sofro, torço para que a revolucionária lâmina Gillete super-azul, do estojo
Campeão, corte a língua dessa gente.
Tudo anda bem com Bardhal, o
sucesso das estrelas do cinema começa com Lux, e a educação em tempo integral
será implantada no primeiro ano do meu governo. Na nossa mesa terá Plus-Vita
todo dia.
Este é o país que sente saudade do
“aditigre”, o aditivo da Esso que dava mais potência ao motor, deixava sempre
limpo o carburador. Assim, com todos anestesiados pela mentirada atávica de um
século de propaganda comercial, fica mais fácil ao marqueteiro político dizer,
sem medo de a plateia cair na gargalhada, que o seu candidato dobrará o PIB na
primeira semana de mandato.
O único brasileiro punido por uma
propaganda foi o extraordinário Gerson, o Canhotinha de Ouro da Copa do México.
Ao anunciar o cigarro Vila Rica, o mais barato do mercado, ele disse da delícia
de se levar vantagem em tudo. Pra quê?! O brasileiro, este monumento erigido em
louvor da ética e dos bons princípios morais, escanteou o grande jogador para o
limbo dos seres incorretos. Já com os que prometem radicalizar o PAC, o SUS, a
UPA e o upalelê, nada acontece.
Nos últimos anos, a propaganda
comercial ganhou fiscalização, já não se permite mais, como no final da década
de 1960, colocar alguém fumando ao lado do bordão “O importante é ter Charm”. O
importante hoje, alerta o Ministério da Saúde na antipropaganda atrás do
próprio maço do cigarro, é não morrer de câncer. Os políticos, no entanto,
estão soltos para anunciar o que lhes der na imaginação. Da imediata
transformação da Baía de Guanabara numa piscina de águas translúcidas até a
incorporação de novas siglas às já conhecidas VLT, BRT, BRS, com a diferença de
que o transporte nelas será grátis para todos.
Neste segundo turno, os males
deletérios do horário gratuito na TV são tão evidentes que cabe mudar o slogan.
Não é mais a alma. A propaganda virou a asma do negócio. Vale tudo para contaminar
os outros com a própria doença. Os candidatos homens já foram vistos batendo em
suas mulheres. As candidatas não passam de mandonas tornadas histéricas pela
privação da vivência com qualquer gota de hormônio masculino.
Não se esqueça da minha Calói, dê
férias aos seus pés, se é Bayer é bom – e se deixar 10% para o partido é melhor
ainda.
A propaganda comum já vilipendiou
o sexo feminino (“Economize sua mulher, leve portáteis GE para casa”). Agora,
sob a vigilância da lei, incomodada não fica nem mais a vovozinha. Melhor
assim. Já o horário político está autorizado a atirar para todos os lados, e
salve-se a reputação que puder. Ninguém tem mais a ficha limpa no padrão Omo, com
um branco total radiante ou o azul polar brilhante. A lei é a da selva de
conchavos, perigosa até para o elefantinho da Shell. Os adversários do primeiro
turno são políticos da pior espécie até a contagem das urnas. No segundo turno,
o efeito Rexona faz com que passem a cheirar melhor – pois sempre cabe mais um na
aliança quando se usa o desodorante do acúmulo de votos.
Enfim, se o sabonete Eucalol
prometia um componente balsâmico que tornaria a sua família mais feliz, não é muito
diferente ouvir do candidato a promessa de diminuir os impostos esta noite
ainda. É tudo bálsamo para boi dormir, óleo de fígado de bacalhau para amargar a
vida do próximo.
Falta na propaganda política,
como se faz em relação aos médicos depois do anúncio de analgésico, o aviso fundamental:
Caso permaneçam os sintomas de mentira, a autoridade policial mais próxima deve
ser consultada.
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