Na sala com a família Bolsonaro (05/11/2018)

Um novo país se construirá a cada 'Deus te abençoe' que a Constituição obrigar

O Ministério da Família, que o novo governo federal discute implantar como um dos pilares da reconstrução moral do país, se faz urgente pelo exemplo simbólico de que é preciso primeiro botar ordem na própria casa do cidadão. Reina o caos na vida doméstica brasileira. Ninguém sabe mais a hora da janta, quem leva o cachorro para passear ou o número exato de relações a partir do qual o sexo sai das santas obrigações maritais e extrapola desavergonhadamente para a mais pura gandaia. O Ministério da Família era o que o Brasil precisava.

Um governo justo se preocupa com a pia cheia de louça e a necessidade de uma agenda democrática para definir quem, caramba?!, vai encostar o umbigo lá e resolver a parada. Urge restabelecer a plataforma de civilidade parental e decretar a obrigatoriedade do filho, ao se pôr de pijamas para dormir, ir até o magno senhor e beijar-lhe as mãos com o pedido reverente de “a bênção, meu pai”. Um novo país se construirá a cada “Deus te abençoe” que a Constituição obrigar.

Aproxima-se, por exemplo, o Natal. É preciso de uma vez por todas definir com rigor as regras do inimigo oculto após a ceia. Ou será que por brincar de desagregador, e assim parecer se insurgir contra o pacto de união nacional, deve-se simplesmente banir o inimigo oculto para longe das fronteiras natalinas? Que se legisle com clareza em prol da paz na grande família. Mais: deve-se ou não tirar os sapatos ao entrar em casa? O kit gay desaparecerá. Entra em cena o manual prático de como colocar o lençol de elástico na cama.

A família penhorada agradece. Quantos lares foram desfeitos porque se deixou para o casal resolver sozinho, sem o amparo jurídico da União, se o papel higiênico devia ser desenrolado para cima ou para baixo? São questões básicas para o desenvolvimento correto da célula mater da sociedade, princípios funcionais que estavam sendo desprezados pelos governos de esquerda, todos de olho no macro-social, desligados do micro-doméstico. Em boa hora, a nova presidência bota o assunto na agenda cívica. Será o fim das interrogações cotidianas. Dar ou não dar bom dia no grupo da família no WhatsApp? Saber ou não o sexo do bebê? A história da cegonha será obrigatória até os dez anos.

A família finalmente terá respostas técnicas às suas angústias, antes descartadas como alienantes. Um país se faz com transparência e com a solução das minudências da família. Salsa ou cebolinha? Com quantos anos informar ao Júnior toda a verdade sobre Papai Noel?

Já se fazia tardio ao governo legislar com rigor sobre esse extravagante agrupamento que, num mesmo Natal, junta o primo distante, o cunhado brutamonte e a tia solteirona do ganesh tatuado na coxa. É um material explosivo. O Ministério da Família precisa fazer parte da segurança nacional. Será a ferramenta que faltava para o país adubar de jeito científico o quintal de sua intimidade e em seguida ter tranquilidade, nos escritórios e nas indústrias, para trabalhar duro. A toalha molhada sobre a cama estará sob a égide ministerial. O mau uso da tampa do vaso, por parte do homem, e a inobservância, por parte da mulher, da proibição de secar a calcinha no banheiro serão tópicos de agravante penal se essas medidas de harmonização familiar fracassarem e for necessário recorrer ao divórcio. A visita da sogra terá controle do Estado. Não caberá recurso.

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